sexta-feira, 15 de março de 2013

Os Segredos do Santo Padre


Carlos Alberto Lungarzo 


Não é um segredo para ninguém o fato de que a totalidade das hierarquias católicas são inimigas da homossexualidade (alheia), condenam o aborto até de fetos anencefálicos (o aborto voluntário é admitido por todos os países Europeus, salvo Espanha), advogam pelo celibato sacerdotal, proíbem o sexo por prazer, consideram a mulher um ser inferior, etc. Inclusive o aborto e o homoerotismo são criticados pela assim chamada “Teologia da Libertação”, tida como minoria progressista da Igreja.

Tampouco é novidade a histórica aliança de 1700 anos entre a Igreja e as grandes ordens de Cavalheiros e, depois, dos exércitos regulares, o que culminou no século XX com o apoio ao fascismo e a sua versão mais truculenta, o sangrento franquismo espanhol.

Dizer que o novo papa, Francisco, compartilha esses valores seria uma redundância.

Mas há alguns “segredos” na vida do pontífice que nem todos conhecem fora de seu país de origem. De fato, quando ele foi proclamado Papa, milhões de pessoas no mundo devem ter comprado um mapa para saber onde tinha nascido aquele homem de aspecto simpático e humilde, e biótipo de italiano do Norte. É natural que alguns desses detalhes não se conheçam.

Para os que desejem informar-se, há numerosos artigos na Internet, e até alguns livros, cujo conteúdo o próprio Francisco tentou rebater num contra-livro, só em 2010, quando sua condição de um dos grandes favoritos (já insinuada em 2005, quando ganhou o segundo lugar após Ratzinger) se tornou mais concreta.

Os interessados podem ver, entre outros muitos, os seguintes links:

http://www.redebrasilatual.com.br/temas/internacional/2013/03/novo-papa-e-associado-a-sequestros-de-jesuitas-e-de-bebe-durante-ditadura

http://www.cbsnews.com/8301-202_162-57574147/jorge-bergoglio-who-is-the-new-pope/

http://www.advivo.com.br/blog/antonio-ateu/vaticanao-o-papa-da-ditadura-militar-argentina



O leitor encontrará também outros textos, alguns escritos por organizações que assinam como católicas. 

Eventualmente, como em todos os casos, alguns textos podem não ser 100% verídicos, mas eu não estou fazendo uma acusação. Estou apenas informando de acusações feitas por outros, e cabe ao leitor se perguntar: “Qual seria o interesse dessas pessoas em criticar um humilde servidor de Deus?”

A Argentina voltou à normalidade democrática em 1983 quando o então padre Bergoglio estava com 47 anos. Nessa época, o atual papa era reitor do Colégio Máximo San José (da cidade de San Miguel), o maior seminário de formação de sacerdotes da Argentina (1980-1986) após ter sido, entre 1973 e 1979, o principal chefe (dito, na gíria eclesial, provincial) da poderosa e influente ordem dos jesuítas.

Sendo Argentina um país absolutamente católico, sem qualquer miscigenação com religiões nativas como no resto das Américas, e tendo como exceção apenas uma comunidade judia que sempre padeceu perseguição (e alguns evangélicos e islâmicos), tudo o que faz a Igreja foi sempre claramente percebido pelo resto da sociedade. Aliás, ainda hoje, Argentina talvez seja o único país (não sei o que acontece atualmente na Polônia, mas eventualmente poderia ser um de dois casos), em que a Igreja não está separada do Estado. Por exemplo, o Estado paga um salário aos bispos (não sei se Bergoglio o aceita ou o doa), mas já houve um conflito com o Vaticano quando Nestor Kirchner quis tirar a mensalidade de uns 3.000 dólares a um bispo que propôs que o ministro Gines, defensor da camisinha, devia ser linchado.

Em 1983, Jorge Bergoglio, uma figura austera, silenciosa, alheia a chamar a atenção, não tinha nenhuma influência política evidente, mas acumulava muita influência invisível. Ele utilizou essa influência para tentar mostrar um rosto “moderno” da Igreja, modificando a imagem desta como cúmplice qualificado e ativo dos genocídios e torturas generalizadas, que foram comuns na Argentina muitas vezes.

Por que fez isto? Muito simples. Apesar de ter mais de 90% de católicos e da mística medieval que impregna quase todas as instituições da Argentina (pelo menos, até a última vez que eu estive em meu país de origem), a Igreja ganhou um enorme número de inimigos combatentes, muitos dos quais, de maneira paradoxal, continuavam se considerando católicos.

Esses inimigos formavam um grande grupo de pessoas que eram parentes, amigos ou conhecidos qualificados dos desaparecidos pela ditadura de 1976. O número de mortos em tortura e depois desaparecidos foi tradicionalmente fixado em 30.000 no ano de 1978, mas eu acredito que o número total deve ser muito maior, provavelmente entre 35.000 e 42.000, tendo em conta que a ditadura continuou até 1983. (Não é este o lugar para justificar esta afirmação que surge de documentação dispersa, e de documentos internacionais parcialmente desclassificados.)

Unidos aos parentes dos 1.200.000 exilados, refugiados e asilados pelo mundo (ou seja, 3% dos habitantes do país nesse momento), os familiares e amigos dos desaparecidos deviam somar algo como 6 milhões, o que significa 20% da população. Calculo que, embora muitas pessoas não tivessem parentes nem amigos, é razoável considerar que a média de afetos por cada exilado ou desaparecido seja de 5 pessoas.

Como é bem conhecido, a Igreja Católica apoiou intensa e devotadamente os crimes da ditadura, não apenas encobrindo ou justificando-os, mas também dando apoio psicológico e propagandístico, colocando a seu serviço seu aparato internacional (incluída a máfia italiana e o grupo P2), abençoando as máquinas de choque e os instrumentos usados para mutilação, e até, em vários casos, aplicando tortura com suas próprias mãos.

Há pelo menos 40 livros em espanhol e pelo menos 15 em inglês, dedicados de maneira total ou parcial à cumplicidade da Igreja Católica com os crimes de Estado na Argentina nos anos 1976-1983, e milhares de páginas de Internet.

De todos os casos de católicos aliados da ditadura, o mais espantoso é o do padre Christian Wernich, condenado em 2007 a prisão perpétua. Os que sobreviveram a seu sacerdócio afirmam que, de todos os torturadores civis e militares, ninguém era tão temido como o santo confessor. Ele chamava “fazer a barba” a passar a máquina elétrica, mas esta não era a máquina de barbear, mas de aplicar choque.

Com seu estilo discreto, Bergoglio tentou jogar um manto de esquecimento nos fatos protagonizados por uma das mais poderosas e compactas igrejas do planeta, num dos países mais católicos do mundo, junto com a Polônia e a Irlanda. Não sabemos se ele conseguiu refrear a saída de fieis da Igreja, já que no ano 2000, menos de 10% do país assistia regularmente a missa. Mas, ele fez grandes esforços e até permitiu a jornalistas estrangeiros que redigissem biografias sobre ele, e escreveu sua própria versão de sua vida, tentando refutar algumas dúzias de testemunhos que o acusavam de ter participado ativamente na ditadura. Ele fez um trabalho similar ao de Pio XII, quando, depois da guerra, tentou disfarçar, sem nenhum sucesso, a estreita colaboração do Vaticano com o nazismo.

Mas, antes de 1983, como era a relação de Francisco com a ditadura?

Jesuítas e Crianças

Como em muitos outros países, uma minoria de padres apoiou a causa dos direitos humanos e teve certa militância no que foi chamado “Teologia da Libertação”.

Dois deles foram os jesuítas Orlando Dorio and Francisco Jalic que propagavam uma visão social do cristianismo em favelas e bairros populares. Estes padres foram capturados pelos esquadrões da morte dos militares e submetidos a tortura, mas conseguiram sobreviver. Enquanto Jalic se fechou num mosteiro alemão e nunca mais falou de seu passado (e possivelmente, nunca voltou a Argentina), Dorio acusou explicitamente a Bergoglio, que era a máxima autoridade de jesuítas, de ter negado proteção, e ter permitido que ele fosse capturado.

Em vários dos links citados, especialmente no editado pela UNISINOS, há numerosos detalhes que descrevem, em total, uma quantidade apreciável de testemunhas. Embora a mídia brasileira tenha ignorado estas afirmações e diga que são simples conjecturas, um número tal de testemunhas seria possivelmente aceito por um tribunal penal.

Bergoglio usou por duas vezes os privilégios de não acatar as decisões da justiça, privilégio que a Argentina concede aos bispos, que têm um fórum privilegiado equivalente ao dos deputados, senadores e presidentes. Em função disso, recusou dar depoimento aos tribunais que julgaram os crimes contra a humanidade na época da ditadura.

Bergoglio aceitou, porém, comparecer a uma terceira intimação, quando a pressão dos milhares de vítimas se tornou muito intensa.

Segundo a advogada Myriam Bregman que trabalha em direitos humanos, as afirmações de Bergoglio, quando aceitou ir aos tribunais, mostram que ele e outros padres eram coniventes com os atos praticados pela ditadura. Ele, porém, não foi indiciado, também com base na “falta” de provas.

Em 1977, a família De la Cuadra - formada por ativos defensores do direitos humanos (cuja matriarca Licha, 1915-2008, foi condecorada pelos governos democráticos posteriores à ditadura) - teve sequestrados cinco de seus membros, dos quais apenas um reapareceu muito depois.

O padre Bergoglio se recusou a indagar onde eles estavam e até a ajudar a procurar uma criança recém nascida, filha de uma das mulheres desaparecidas.

Em algumas ocasiões, o Santo Padre não pode refutar que a ditadura argentina tinha feito numerosas atrocidades, mas argumentou que isso foi uma resposta provocada pela esquerda, que, segundo ele, também teria usado o terror. Este infame argumento, como todos sabem, foi fortemente repudiado em todos os países que tiveram ditaduras recentemente.

Durante o governo de Néstor Kirchner e, após, o de sua esposa, Cristina Fernández, o atual papa, mantendo seu estilo “sutil” aproveitou para criticar muitas vezes ao governo (que, como o governo brasileiro, subiu ao poder pelo voto popular), o acusando de ditatorial, de gerar o caos, de defender pessoas de vida sexual “abominável”, etc.

Com seu estilo aparentemente moderado, Bergoglio teve certo sucesso onde outros padres, que pregaram abertamente a tortura e o genocídio dos ateus e marxistas, fracassaram. Com efeito, apesar de ser unanimemente repudiado pelos defensores de direitos humanos, inclusive os católicos, ele nunca foi processado, como aconteceu com o padre Wernich, e até conseguiu forjar uma máscara de tolerância.

sexta-feira, 8 de março de 2013

O maior legado de Chávez é uma histórica Revolução Democrática



Na era Chávez, a Venezuela foi declarada território livre do analfabetismo pela Unesco e também o país que registrou o mais acelerado padrão de crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. A principal conquista, no entanto, foi o avanço da democracia direta, sem restrição de liberdades. Leia o artigo de Breno Altman, diretor do Opera Mundi.


Por Breno Altman

Tantos simpatizantes quanto críticos do falecido presidente venezuelano, em sua maioria, tendem a destacar os feitos sociais como a principal herança de seu governo. Afinal, são inegáveis os avanços conquistados nesses últimos catorze anos, impulsionados por uma liderança que transferiu a receita petroleira, antes apoderada por grupos privados, para um vasto pacote de serviços públicos e iniciativas distributivistas.

A Venezuela apresenta a sociedade com melhor repartição de renda da América do Sul, de acordo com o índice Gini, além do maior salário mínimo regional, atestado pela Organização Mundial do Trabalho. Registra, na última década, o mais acelerado padrão de crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do subcontinente, segundo relatório das Nações Unidas. Foi declarada território livre de analfabetismo pela Unesco, em 2006. Não é pouca coisa.

Esses resultados foram consequência da universalização de direitos sociais, sob o comando do Estado, em um processo financiado pela progressiva nacionalização dos recursos minerais, especialmente dos hidrocarbonetos, que antes abasteciam as arcas de oligarcas venezuelanos e estrangeiros.

Provavelmente nada disso, contudo, teria sido possível se Hugo Chávez não tivesse colocado como a primeira e mais importante tarefa a mudança radical do sistema político. Estudioso da experiência chilena de Salvador Allende, o presidente socialista derrubado por um golpe militar em 1973, o mandatário venezuelano sempre afirmou que não se fazem reformas estruturais com as velhas instituições forjadas pelas elites.

Talvez uma estratégia de mudanças sem rupturas pudesse prescindir de transformação política mais ampla. O programa de Chávez, porém, tinha outras características, apontando para medidas de choque contra os monopólios privados, os latifúndios e o imperialismo. Seu discurso assumiria, com o passar do tempo, declarada perspectiva anticapitalista, enfeixado sob o conceito de “socialismo do século XXI”.

Não foi à toa que, amparado por instável maioria parlamentar, sua batalha inaugural foi pela convocação de uma Assembleia Constituinte que refundasse o Estado, dotando-o de mecanismos democráticos que ampliassem a participação das camadas populares e reduzissem a influência dos antigos grupos que, até então, partilhavam o poder entre si. O radicalismo da pauta política, nos primórdios da gestão do falecido dirigente, era o destacamento avançado de uma agenda que ainda apontava para reformas econômicas bastantes moderadas.

O novo marco constitucional, que fundava a Quinta República, trouxe no seu bojo instrumentos democráticos inéditos. Além de instituir mecanismos plebiscitários, de caráter impositivo, que poderiam ser convocados tanto pelo parlamento e o governo quanto por iniciativa de cidadãos, a Constituição também adotou a possibilidade de referendos revogatórios de todos os mandatos, inclusive o presidencial, desde que estivesse cumprida metade do termo e ao menos 20% dos eleitores subscrevessem a convocação.

O próprio Chávez enfrentou votação dessa natureza, em 2004, na qual manteve seu mandato por larga maioria. Muitos governadores, prefeitos e deputados não tiveram a mesma sorte e foram afastados. O objetivo dessas medidas, entre tantas outras, não era eliminar a democracia representativa, herdada do liberalismo, mas reinseri-la em um cenário no qual as formas de participação direta da cidadania ocupassem o centro das decisões.

Vários capítulos constitucionais versam sobre essa centralidade, ampliando os espaços de soberania popular em todas as esferas do Estado. Chávez recorreu às urnas, através de eleições ou consultas, para cada um de seus passos estratégicos. Foram catorze processos eleitorais gerais desde 1998, sempre com a presença de observadores internacionais das mais distintas correntes. O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, chegou a citar o sistema eleitoral venezuelano como “o mais aperfeiçoado do mundo”.

A expansão contínua da democracia participativa, em detrimento da estrutura de representação, minou o peso do empresariado, dos meios comerciais de comunicação e das casamatas mais retrógadas do aparelho estatal, especialmente no sistema judiciário. Provocou o ódio do tradicionalismo, mas deu a Chávez base popular para integrar o conjunto das instituições à transformação política em curso.

Nos últimos anos, novas empreitadas foram consolidando esse projeto. A mais relevante talvez seja a criação e o desenvolvimento do chamado poder comunal. Trata-se de pequenas áreas geográficas, distritos ou bairros, que funcionam como instituições políticas, mas também podem organizar seus próprios serviços públicos, constituir empresas para diferentes atividades e receber financiamento direto do governo nacional. Busca-se, assim, horizontalizar o Estado e esvaziar os estamentos burocráticos ainda controlados ou corrompidos pelos antigos senhores.

Ao contrário de outras experiências de identidade socialista, a ampliação da democracia direta não foi acompanhada pela redução de liberdades, mesmo daqueles setores que participaram do golpe de Estado em 2002. Nenhum partido político foi fechado ou proibido. Nenhum jornal ou revista deixou de circular por ação do governo. Praticamente todas as concessões de rádio e televisão foram mantidas, com a exceção da RCTV, que violou seguidamente as normas legais, mas pode continuar sua transmissão como canal a cabo.

O que ocorreu foi uma multiplicação dos veículos impressos e eletrônicos, particulares e públicos, afetando o controle que a mídia tradicional detinha sobre a informação social e a disputa de valores, mas permitindo que novas vozes passassem a ser escutadas pelo país.

O presidente Hugo Chávez também enfrentou com prioridade a questão militar, particularmente após a intentona para derrubá-lo do governo. Afirmava que não repetiria, nessa seara, o erro de Allende. Sua frase preferida: “nossa revolução é pacífica, mas armada”.

Tratou de promover oficiais leais ao processo revolucionário, alterando programas de formação e doutrinas que significassem a defesa do antigo regime, trazendo as forças armadas para um papel ativo na construção política e econômica do projeto bolivariano. A consolidação de sua hegemonia entre as distintas estruturas de segurança, assim o compreendia, era a salvaguarda indispensável para que não fosse abortado o nascimento das novas instituições e do modelo de nação que defendia.

Esse processo levou a uma profunda politização, com a batalha de ideias assumindo todos os espaços públicos, à direita e à esquerda. Inúmeros movimentos e organizações foram criados. O próprio Partido Socialista Unificado da Venezuela, principal agremiação governista, nasce desse ambiente incentivado pela radicalização democrática.

O presidente Chávez, por fim, somou seu ativismo pedagógico às mudanças institucionais, com um viés lincolniano. Não compreendia o papel do chefe de Estado como um árbitro acima das classes ou um gestor de interesses supostamente comuns a todos, mas como um líder escolhido pela maioria do povo para representar determinado projeto de nação e forjar a mobilização necessária para vencer seus adversários.
Por essas e outras, nada é tão importante no legado de Hugo Chávez Frias como a revolução política que comandou. Ao contrário do que propala parte da mídia, e levando a cabo o que para outros não passa de mera retórica, a essência da experiência chavista está na radicalização da democracia.

Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Nazismo


Suástica: cruz, encontrada em diversas tribos, que foi adotada por Hitler como símbolo do nazismo.

Por Demercino Júnior
  Graduado em História

Entre 1918 e 1938, o mundo viveu um período chamado “entreguerras”: vinte anos que separaram as duas grandes guerras mundiais. Com o fim da Primeira Guerra, em 1918, a Alemanha, derrotada, encontrava-se em uma profunda crise. Para sair da guerra e manter o que restou de seu exército, assinou um acordo de paz chamado “Tratado de Versalhes”. Esse tratado, além de responsabilizar a Alemanha pela Primeira Guerra, proibia o país de fabricar armas, tanques e aviões; obrigava a devolução de territórios conquistados e a redução do exército alemão, além de exigir o pagamento de uma indenização aos países vitoriosos, pelos danos de guerra. Essas imposições criaram na Alemanha um clima de revanchismo, revolta, por parte da população que estava se sentindo humilhada. No final da guerra, o regime monárquico do Kaiser (imperador) caiu, dando início à “República de Weimar”.

Em 1917, a Rússia, comandada pelo socialista Lênin, derrubou o governo do Czar Nicolau II e instaurou uma nova forma de governo democrático: o comunismo. Os países que baseavam suas economias no capitalismo e na exploração do trabalhador se viram ameaçados. Uma onda de movimentos antidemocráticos surgiu no cenário mundial, com o intuito de conter o crescimento do comunismo. Na Itália predominava o fascismo; em Portugal, o salazarismo; na Espanha, o franquismo; e na Alemanha, o nazismo. A palavra nazismo vem de Nazi, que é a abreviação de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, que de socialista não tinha nada. Seu líder chamava-se Adolf Hitler e o partido adotou como símbolo a “suástica”, uma cruz encontrada em diversas tribos.

Hitler e seus companheiros, os cardeais do cristianismo 


Hitler e seus companheiros, os cardeais do cristianismo 
Hitler nasceu em 20 de abril de 1889. Em 1923, Hitler, indignado com as péssimas condições que os alemães enfrentavam, oriundas da derrota na guerra, tentou um golpe de Estado em uma cervejaria, na Alemanha. Sem sucesso, foi preso. Na prisão, escreveu um livro que se tornaria a cartilha para o nazismo: “Mein Kampf” (Minha luta). Nesse livro, Hitler defendia a hegemonia da raça ariana, alegando que a Alemanha só se reergueria quando os povos se unissem “num só povo, num só império, num só líder”. Outras etnias, como judeus e negros, deveriam ser executadas. Hitler não gostava de judeus, pois afirmava que a Primeira Guerra só fora desastrosa por conta da traição dos judeus marxistas. Além do ódio contra outras etnias, Hitler também defendia o extermínio de testemunhas de Jeová e homossexuais. E comunistas, é claro. Para executar suas ordens, foram criadas as Seções de Assalto (S.A), as Seções de Segurança (S.S.) e a Gestapo (polícia secreta).

Os alemães viam em Hitler uma salvação para a crise que o país enfrentava. Rapidamente o partido cresceu. Agricultores, jovens, soldados, em todas as classes, tornaram-se adeptos do novo partido. Com a crescente do partido, o presidente alemão Hindenburg, amedrontado, ofereceu o cargo de chanceler a Hitler, que instaurou uma política de repreensão contra seus opositores: os líderes comunistas foram presos em campos de concentração e, posteriormente, executados. Em agosto de 1934, o presidente Hindenburg morreu e Hitler assumiu o cargo máximo, sem abrir mão do seu cargo antigo. Criou o Terceiro Reich (império) e se proclamou Führer (líder, em alemão). Sua primeira medida como ditador foi a execução de milhares de judeus, comunistas, homossexuais, negros e outros nos campos de concentração. Esse episódio ficou conhecido como “Holocausto”.

Uma figura fundamental na difusão do nazismo foi Joseph Goebbels. Hábil orador, cineasta e agitador, Goebbels foi nomeado ministro da propaganda nazista. Além de censurar os veículos de imprensa, Goebbels fazia filmes que alienavam a população, com promessas de um mundo melhor, com a supremacia ariana. Controlava o rádio, a televisão e os jornais, divulgando seus filmes e discursos panfletários em prol do nazismo.

Em 1939, teve início a Segunda Grande Guerra. Hitler, colérico, enviou toda a tropa alemã. Depois de inúmeras derrotas, o exército alemão tentou a última cartada: em junho de 1941 invadiu a União Soviética. Apesar das vitórias iniciais, Hitler não contava com o rigoroso inverno e suas tropas foram surpreendidas, ficando cercadas por tropas russas. Sem comida, sem água e enfrentando um frio congelante, o exército alemão foi derrotado. Hitler, cercado pelo exército vermelho, em seu bunker (esconderijo militar), suicidou-se com um tiro na cabeça.